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Vírus de Marburg, um dos mais letais do mundo, tem surto confirmado pela OMS

Guiné Equatorial, na África Central, confirmou seu primeiro surto do vírus de Marburg, da mesma família do Ebola. A regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) na África informou na segunda-feira, 13, que nove mortes foram confirmadas e 16 casos são investigados como suspeitos.

A doença de Marburg causa febre hemorrágica, com taxa de letalidade de até 88%, de acordo com a OMS, o que faz dele um dos vírus mais mortais do mundo. O quadro começa abruptamente, com febre alta, dor de cabeça e mal-estar intensos. Muitos pacientes desenvolvem sintomas hemorrágicos graves dentro de sete dias.

O vírus é transmitido aos humanos por morcegos frugívoros e se espalha entre os humanos por meio do contato direto com os fluidos corporais de pessoas, superfícies e materiais infectados. Por ora, não há vacinas ou tratamentos antivirais. Contudo, segundo a OMS, cuidados de suporte (reidratação com fluidos orais ou intravenosos) e tratamento de sintomas específicos melhoram a sobrevida do paciente.

Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a gravidade do quadro é explicada pelo “órgão-alvo” do vírus. “Ele afeta principalmente as células do sistema circulatório endotelial. Ele acaba prejudicando a permeabilidade dos vasos das células que revestem o sistema circulatório. Isso faz com que haja hemorragia.”

Doença pode se espalhar pelo mundo e chegar no Brasil?

Em nota, Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS na África, destacou que o vírus é “altamente infeccioso”. “Graças à ação rápida e decisiva das autoridades da Guiné Equatorial na confirmação da doença, a resposta de emergência pode atingir todo o vapor rapidamente para salvarmos vidas e determos o vírus o mais rápido possível.”

Com o mundo mergulhado há cerca de três anos na pandemia da covid-19, a confirmação do surto de um novo vírus tão grave pode assustar. No entanto, os especialistas ouvidos pelo Estadão destacam que, com o conhecimento que se tem até hoje sobre o Marburg, a “exportação” de casos para outros países até pode ocorrer, mas uma disseminação tamanha, que resulte na configuração de uma outra pandemia, por exemplo, é pouco provável.

A letalidade elevada ajuda a explicar isso. “Se a gente pegar um indivíduo, por exemplo, infectado na África e que rompesse essa barreira epidemiológica que já foi instalada, e viesse ao Brasil ou para outro país, a manifestação do sintoma é tão rápida que provavelmente esse indivíduo evoluiria pra um quadro grave e de óbito antes de chegar no território. “Então a gente trabalha aí com uma característica viral muito diferente do SARS-CoV (vírus causador da covid)”, diz Joziana Barçante, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Biomédica e professora do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Lavras (UFLA).

“Quando a gente pensa nesse vírus de elevada infecciosidade, uma transmissão muito alta e uma letalidade muito alta, quando você consegue implementar medidas de vigilância epidemiológica e controle ali naquele surto identificado, consegue conter isso, evitando a dispersão viral como aconteceu com o Sars-CoV. E (desta vez) a OMS entrou muito rapidamente no auxílio com relação a esse enfrentamento a esse surto que aconteceu, então isso faz com que você consiga controlar mais facilmente as fronteiras, evitando essa disseminação”, afirma.

O controle também é mais fácil, de acordo com Barbosa, porque casos assintomáticos são raros.

Fora da Guiné, avaliam os especialistas, a chave, por ora, está na vigilância e acompanhamento do quadro epidemiológico. “É importante sim que a gente tenha informação e que os nossos profissionais de saúde principalmente estejam em estado de alerta nesse momento em função de casos diagnosticados de síndromes hemorrágicas não identificáveis por outro agente etiológico”, afirma Joziana.

Reunião de emergência

Frente aos nove óbitos confirmados, a OMS anunciou na terça, 14, uma reunião de emergência do consórcio denominado Marvac, que promove a colaboração internacional para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus de Marburg. O consórcio é coordenado pela OMS e inclui representantes da indústria farmacêutica, organizações sem fins lucrativos, autoridades e academia.

Os membros se reuniram para fazer um balanço da situação epidemiológica no país, bem como dos possíveis tratamentos e vacinas disponíveis./COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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