Um vídeo do presidente Jair Bolsonaro (PL) puxando um youtuber pela gola da camiseta para pegar seu celular viralizou nas redes sociais na manhã desta quinta-feira (18). O incidente aconteceu no “cercadinho” do Palácio do Planalto, onde o presidente costuma conversar com apoiadores.
Wilker Leão filmava o presidente enquanto o questionava sobre medidas do governo e chamou o presidente de “vagabundo”, “safado”, “covarde” e “tchutchuca do Centrão”. “Quero ver se é corajoso de sair pra conversar comigo, tchutchuca do Centrão. Você é tchutchuca do centrão”.
O jovem, que tem 125 mil seguidores no TikTok e 13 mil no Youtube, chegou a ser empurrado no chão por um homem que estava perto antes de conseguir falar com o presidente. Depois, Bolsonaro se aproximou dele e o puxou pela camisa e pelo braço para tentar impedi-lo de filmar o momento.
Tchutchuca e tigrão
A expressão “tchutchuca” já tinha sido usada como crítica a outro membro do governo Bolsonaro. O deputado Zeca Dirceu (PT-PR) afirmou que o ministro da Economia Paulo Guedes agia como “tigrão” em relação a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como “tchutchuca” em relação à “turma mais privilegiada do nosso país”.
O fato ocorreu em 2019, em uma audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Guedes respondeu que “tchutchuca é a mãe e a avó” e a sessão foi encerrada. O ministro foi escoltado para fora da sala pela Polícia Legislativa.
A comparação entre “tchutchuca” e “tigrão” vem de uma canção do Bonde do Tigrão, grupo de funk carioca dos anos 2000. Em “Tchutchuca vem aqui pro seu Tigrão”, o grupo canta “vem tchutchuca linda; senta aqui com seu pretinho; vou te pegar no colo; e fazer muito carinho” e “vem, vem tchutchuca; vem aqui pro seu Tigrão”.
O que é o Centrão
O Centrão é um bloco formado por parlamentares de diferentes partidos “fisiológicos” que se unem por influência na Câmara e defendem seus interesses em conjunto “independentemente” de ideologia ou de que partido está no governo. O grupo apoiou de Sarney a FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. O atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-) faz parte do bloco.
Essas legendas costumam se organizar do centro à direita do espectro político e estão associadas a negociações em troca de cargos na administração pública. Por reunir centenas de deputados, o apoio do Centrão costuma ser decisivo para a governabilidade, ou seja, a capacidade do Executivo de aprovar projetos de governo.
A expressão “tchutchuca do Centrão” usada por Wilker Leão pode se referir à relação “submissa” do presidente com esse grupo político e as medidas tomadas pelo governo Bolsonaro que beneficiam ou estão alinhadas a ele, principalmente visando a reeleição em outubro deste ano.
O termo Centrão foi usado para designar os parlamentares que formavam maioria na Assembleia Constituinte que deu origem à Constituição Federal de 1988. O deputado Roberto Cardoso, do PMDB (atual MDB) foi um dos idealizadores do grupo. Ele ficou conhecido pela frase “é dando que se recebe”, que usou para explicar o apoio de deputados ao governo José Sarney.
Eduardo Cunha, que foi do mesmo partido até março deste ano, é outra figura importante do Centrão. Deputado pelo Rio de Janeiro, Cunha foi presidente da Câmara até 2016, inclusive durante o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, época em que o Centrão consolidou a atuação que tem hoje.
Ele foi cassado e preso na Operação Lava-Jato no mesmo ano, acusado de receber propina do esquema da Petrobras em contas na Suíça. Atualmente, é filiado ao PTB. No mês passado, a Justiça suspendeu provisoriamente a resolução que o tornava inelegível.