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O acervo do Jornal “Agora”

*Por Clóvis Silveira Góis Júnior

O hoje existe em virtude de ações e decisões tomadas nos passado. Precisamos conhecer o momento pretérito para entender, direcionar e justificar o presente, além de planejar de forma inteligente o futuro. Mas como evocar o passado sem conhecê-lo? Portanto, há necessidade de averiguar nossa trajetória histórica para elucidar e resolver problemáticas específicas que nos assomam.

Urge resgatar a história para fortalecer nossa identidade como munícipes itabunenses, fornecendo respostas e ideias aos nossos gestores, buscando promover a cidadania e viver numa cidade melhor. É sabido da importância de um acervo como fonte de pesquisa, seja ele pessoal ou institucional, bem como de sua preservação, visando à não-deterioração do material ou mesmo definitivas perdas, começando pela segurança física do imóvel que o abriga, pela forma como se encontram acondicionados os seus volumes, como também pelo adequado manuseio de seus arquivos.

Um bom exemplo regional é o CEDOC (Centro de Documentação e Memória Regional), órgão mantido pela  Universidade Estadual de Santa Cruz. Nele é possível encontrar um rico acervo histórico de jornais regionais, processos trabalhistas, livros de história (memorialistas ou acadêmicos) e de literatura, documentos institucionais (editais, atas, portarias, correspondências, projetos, relatórios etc), fitas magnéticas, vídeos, fotografias, mapas e trabalhos de conclusão de curso (monografias, teses e dissertações). Além de contar com um bom espaço contíguo para acomodação dos pesquisadores que diariamente recorrem a suas dependências buscando enriquecer seus trabalhos por meio da análise do material disponível, é ponto relevante, também, o atendimento, urbano e eficiente, prestado pelos servidores que gerenciam o material ali disponibilizado.

Itabuna também conta com um outro acervo, desta feita hemerográfico, do extinto jornal “Agora”, que ainda está instalado nas dependências da antiga oficina do semanário. Os volumes, embora bem protegidos, ainda não foram totalmente catalogados e necessitam de uma melhor preservação.

O “Agora” foi fundado em 28 de julho de 1981 por José Adervan e Ramiro Aquino. Foi o primeiro periódico com impressão offset em sua própria gráfica. Circulava aos sábados (em 2003 passou a circular diariamente) e possuía uma tiragem de cinco mil exemplares. Parte dos exemplares foi queimada num provável incêndio criminoso ocorrido em 1992.

Ao folhear as páginas do jornal é possível sentir as digitais (e suor) de José Adervan, Ramiro Aquino, Jorge Araújo, Kleber Torres, Sabino Primitivo, José Nazal, Walmir Rosário, Waldyr Gomes, Antônio Lopes, Joel Filho, Vera Rabelo, Adelindo Kfoury, Rose Marie Galvão, Lourival Jácome, Charles Henry, Raimundo Galvão, Pedro Ivo, Domingos Matos, Camila Oliveira, Genny Xavier e outros tantos abnegados.

Numa cidade com 220.000 habitantes, com 112 anos de história, com o agravante de não possuir um único museu em funcionamento, onde os poderes públicos não promovem ações verdadeiramente ligadas à preservação da memória local, perder ou deixar apodrentar um material escrito por quase quatro décadas, com conteúdo quase que exclusivamente grapiúna, tornar-se-á uma mácula cultural sem precedentes.

Recentemente, a atual responsável pelo acervo, Fernanda Oliveira, buscou uma forma de digitalizar o material existente, porém entraves burocráticos e econômicos obstacularizaram a acertada decisão. Também, há poucos dias, Fernanda, que ainda mantém viva a louvável iniciativa do seu pai, Adervan, manteve contato com a professora Janete Ruiz de Macedo, guardiã das memórias itabunense e regional, numa tentativa de encontrar local e pessoal adequados para guarnecer o rico material jornalístico. Se exitoso o acordo, ganharia toda a comunidade grapiúna.

Torço para que a composição seja bem-sucedida e que seja acondicionado de forma exemplar tão relevante material.

Foto: Fernanda Oliveira/Agora na Rede

* Clóvis Silveira Góis Júnior é servidor público federal, com formação em Administração e História, responsável pelo perfil @historia.grapiuna (no Instagram) e autor dos livros “A gênese do adventismo grapiúna” e “Sequeiro do Espinho: passos de um conflito”.


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