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Invasão de terras e ameaças a indígenas: o impacto das facções no extremo sul da Bahia

A presença de facções criminosas no extremo sul da Bahia tem gerado medo para moradores e, principalmente, para as comunidades indígenas que vivem na região da Aldeia de Barra Velha, localizada às margens da Estrada de Caraíva, que liga a zona turística do litoral a municípios como Porto Seguro, Itabela e Eunápolis. Os povos originários, que já vivem há anos em um conflito por terras com fazendeiros, agora precisam lidar com outro problema: as invasões e ameaças de grupos criminosos.

A reportagem ouviu uma liderança dos povos indígenas da região, que são da etnia Pataxó. Sem se identificar por já ter sofrido ameaças de traficantes, a fonte confirma a presença de ao menos uma facção na região. “Existe dentro do Xandó uma facção realmente, mas não há ainda uma dentro de Barra Velha. Eles estão tentando entrar aqui e chegaram atacar a casa de um cacique com tiros. Ninguém ficou ferido e eles não estão instalados”, conta a fonte.

 

Xandó e Barra Velha são aldeias de uma mesma região e ficam à beira da Estrada de Caraíva, onde a Coluna Satélite, do CORREIO, já noticiou a presença de facções criminosas. A liderança dos Pataxó na região sul aponta que as facções tentam recrutar adolescentes indígenas que moram por lá. A intenção seria montar um ‘efetivo’ das facções nas zonas rurais, onde estão localizadas as terras indígenas. Uma dessas, inclusive, já teria sido um QG para armazenamento de drogas e armas.

“Há pouco mais de uma semana, fizemos um movimento de retomada em fazendas da região que são dos indígenas. Uma dessas, a Fazenda Fabrinha, era sede do tráfico. Tinha balança, máquinas para prensar drogas e outros equipamentos. Por conta disso, a gente tem sofrido pressão e ameaças deles. Ninguém dorme mais de porta e janela aberta, tiraram a nossa paz aqui”, completa ela.

A liderança diz ter provas do caso, mas preferiu não enviar para reportagem, afirmando que a situação já foi denunciada à Justiça. A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) foi procurada para informar se tem conhecimento da situação e se tomou alguma providência, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também foi procurada, mas não deu retorno.

A região das aldeias de Xandó e Barra Velha, além de estarem em terras demarcadas como Territórios Indígenas (TI), estão na rota turística de uma das regiões mais movimentadas do estado. Para se ter ideia, em 2023, o Aeroporto de Porto Seguro é o segundo destino aéreo mais procurado da Bahia, de acordo com dados do Observatório do Turismo. De janeiro até agosto – último mês com números divulgados -, 672 mil pessoas desembarcaram por lá.

O número faz o equipamento ficar atrás apenas do Aeroporto de Salvador, que teve pouco mais de dois milhões de desembarques. Para efeito de comparação, o Aeroporto de Ilhéus, que também fica na região sul do estado, teve 190 mil desembarques no mesmo período. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA) foi procurada para repercutir a situação e responder se há uma preocupação com a incidência de violência na região, mas não retornou até fechamento desta reportagem.

Uma dona de pousada em Caraíva, um dos principais destinos da região, conta que a situação não afeta a área turística. No entanto, detalha problemas na região da Aldeia Xandó que apontam o porquê da área já ter inserção de facções. “Dentro de Caraíva é super seguro, não temos problema nenhum. A questão é na Xandó, que é área indígena onde arrendam terra e ninguém tem documento. Lá não tem controle de quem é quem, de onde que vem o dinheiro do investimento”, relata ela, que prefere não se identificar.

De acordo com outras fontes da área hoteleira, o problema não toca na parte turística e nas suas atividades, mas põe em risco a segurança dos povos originários pertencentes às áreas onde o tráfico tenta se estabelecer. Um exemplo da presença de facções na região foi o duplo homicídio de Carlos André dos Santos Alves, 29 anos, e a namorada dele, Ana Júlia Freire dos Santos, 22. A polícia tem como principal linha de investigação a possibilidade de o caso ter sido uma retaliação de um grupo criminoso da região. Ao lado dos corpos do casal, foi encontrado um bilhete com referência à facção do Primeiro Comando de Eunápolis (PCE).

Correio


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