A cada dia que passa, o transporte público de Ilhéus se supera — ou talvez o verbo mais adequado seja “repetir”. Repetir a mesma falta de qualidade, repetir o mesmo atraso, repetir os mesmos ônibus velhos e claro, repetir o sofrimento de quem precisa desse sistema. A população, refém de um serviço que já está mais para show de horrores do que para um transporte digno, continua a se arriscar em veículos que poderiam tranquilamente ser aposentados no museu da desgraça pública. Mas, surpreendentemente, essa realidade não impede que a possibilidade de renovar o contrato com uma das empresas que atuam em Ilhéus seja cogitada. A questão é: por que insistir em um sistema que não consegue nem ao menos atender às necessidades mínimas dos passageiros/cidadãos contribuintes?
A cereja do bolo foi o recente incidente no terminal de Ilhéus: um ônibus pegou fogo. E, por sorte, não virou notícia de tragédia na imprensa regional. As chamas assustaram quem passava por ali, mas, felizmente, a sorte estava ao lado dos passageiros. Pena que a sorte não paga passagem, não garante um transporte seguro e não impede que o próximo ônibus pegue fogo na cara de quem mais precisa o POVO. Mas será que a cidade vai continuar contando com a sorte, ou estamos realmente à espera de uma tragédia maior para começar a mudar alguma coisa?
E não é só a qualidade que está em jogo aqui. O transporte público de Ilhéus tem uma história recheada de contratos nebulosos, estranhos e/ou suspeitos as empresas que trocam de nome, mas continuam a prestar o mesmo serviço de péssima qualidade. E aqui, nem estamos considerando a proximidade entre poderosos e políticos com a outra empresa que opera no município que, sejamos francos, não faz muito melhor que a outra.
Depender do transporte público em Ilhéus exige coragem do cidadão, porque a “aventura” começa assim que você entra no ônibus — e não, não se trata de uma viagem tranquila. Além de enfrentar veículos sucateados e atrasos constantes, quem depende desse serviço não encontra alternativas viáveis. A falta de opções e a total desconsideração pelas necessidades dos passageiros fazem com que o transporte público seja, para muitos, uma obrigação amarga e uma verdadeira prova de resistência e pânico.
Agora, vamos falar sério: a solução não pode ser simplesmente renovar contratos com empresas que já provaram ser mais eficazes em fazer promessas do que em garantir um transporte de qualidade. Ilhéus merece mais do que isso. A solução real não é sentar e esperar a renovação mágica de um contrato, mas sim investir em um planejamento sério. Quem sabe um estudo de mobilidade urbana? Quem sabe uma nova licitação que realmente olhe para a população e não para os interesses de quem já se acostumou com a falta de fiscalização?
Cidadãos de Ilhéus, é hora de exigir mais do que discursos descontextualizados. A cidade precisa de soluções reais — e não de mais uma renovação de contrato que só prolonga o sofrimento e o caos. Porque, como está, o único fogo que realmente está aceso por aqui é o da indignação de quem está cansado de ver ônibus pegando fogo e a paciência da população queimando junto.
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