Dezembro é tradicionalmente associado à cor vermelha, símbolo da luta contra o HIV/AIDS, uma questão de saúde pública global que ainda exige atenção e esforços contínuos. Instituído no Brasil pela Lei nº 13.504/2017, o Dezembro Vermelho reforça a conscientização, prevenção, diagnóstico precoce e o enfrentamento ao estigma social enfrentado por pessoas que vivem com o vírus.
Nos últimos dez anos, o Brasil alcançou uma redução de 25,5% na mortalidade por AIDS. Ainda assim, dados do Ministério da Saúde mostram que, no ano de 2022, cerca de 30 pessoas morreram diariamente devido à doença. Apesar desse desafio, avanços significativos foram registrados: 92% dos pacientes em tratamento no país atingiram o estágio de carga viral indetectável. Isso significa que, além de não transmitirem o vírus, essas pessoas conseguem manter uma boa qualidade de vida.
“Vale lembrar que existe muita vida ainda após o diagnóstico do HIV, as pessoas conseguem ter uma qualidade de vida, desde que a gente consiga tratar esse paciente, acompanhar esse paciente da forma mais adequada”, explica a infectologista e professora da UnexMED Itabuna, Dra. Marcelle Marçal. “Por isso, é muito importante ter um diagnóstico precoce, para inclusive tentar dar um diagnóstico antes de ter o paciente na fase de AIDS”, acrescenta.
O HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) é um retrovírus que ataca o sistema imunológico, especialmente as células de defesa chamadas linfócitos T CD4+. Uma vez infectado, o organismo perde progressivamente a capacidade de combater outras doenças, tornando-se vulnerável a infecções e tumores. Quando não tratado, o HIV pode evoluir para a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), estágio avançado da infecção em que as complicações se tornam graves e até fatais.
Embora ainda não exista cura para o HIV, tratamentos modernos permitem controlar o vírus e evitar a progressão para a AIDS. A terapia antirretroviral (TARV) é o principal recurso, capaz de reduzir a carga viral a níveis indetectáveis, impedindo tanto a manifestação da doença quanto a transmissão. Essa abordagem, aliada às estratégias de prevenção e diagnóstico precoce, é fundamental para garantir qualidade de vida às pessoas vivendo com o HIV.
Formas de prevenção e diagnóstico
Entre as estratégias preventivas destacam-se o uso de preservativos, a PrEP — comprimidos tomados antes da relação sexual que preparam o organismo para possíveis exposições ao vírus — e a PEP, indicada para situações de risco recente, como relações desprotegidas ou acidentes com materiais biológicos. Além disso, testes rápidos e autotestes estão amplamente disponíveis pelo SUS, permitindo que os resultados sejam obtidos em até 30 minutos.
“Infelizmente, apesar da gente ter disponível na rede pública no Brasil há anos, muita gente ainda não conhece a PrEP. Então se você está em um momento da sua vida que você acha que está com um risco aumentado de contrair HIV, você pode procurar um serviço público, pois a medicação é disponibilizada pelo SUS. ”, reforça a Dra. Marcelle.
Desmistificando a transmissão e Combate ao preconceito
Embora ainda existam muitos mitos sobre o tema, o HIV não é transmitido pelo ar, saliva, suor, lágrimas, compartilhamento de objetos como talheres ou toalhas, nem por picadas de insetos. Os principais modos de contágio incluem relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas contaminadas, transfusões de sangue sem controle adequado e transmissão vertical de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação, caso as medidas preventivas não sejam tomadas.
Outro foco da campanha é o enfrentamento do estigma social. Muitas pessoas ainda evitam buscar diagnóstico ou tratamento devido ao medo de preconceitos. Esse estigma, além de prejudicar a saúde individual, atrasa o controle da epidemia como um todo. “É preciso lembrar a população em geral que o estigma, o preconceito precisa ficar para trás, a gente precisa acolher as pessoas independente da sorologia”, defende a infectologista.
A campanha Dezembro Vermelho é um chamado à conscientização coletiva. Promover informação, desmistificar a doença e estimular a empatia são passos fundamentais para um futuro com menos preconceito e mais qualidade de vida para todos.